Conexão Brasil x Portugal: O Mundo das Pessoas

E se, de repente, o digital não fosse a maior tendência do momento? E se, de repente, não fossemos ser dominados por robôs, a Inteligência Artificial não fosse revolucionar o mundo do trabalho e a tecnologia não passasse a comandar a nossa vida e os nossos trabalhos? E se, por mera hipótese teórica, de repente, a maior tendência fosse as pessoas? E se, num rasgo de ousadia extrema, descobríssemos que afinal as pessoas são a tendência de sempre e todo o resto surge apenas como formas, instrumentos e ferramentas para proporcionar às pessoas a melhor experiência de vida possível?

É verdade sim que os robôs “andam aí”. É verdade sim que a tecnologia está a evoluir exponencialmente e que tem impacto nas nossas dinâmicas profissionais, sociais e pessoais. É uma realidade inegável e sobre a qual devemos refletir e encontrar as estratégias mais eficazes para nos adaptarmos e acompanharmos o seu ritmo, por vezes elevado demais.

Mas também é verdade que vivemos, mesmo na Era Digital, a Era das Pessoas. Uma Era em que o ser humano é cada vez mais valorizado, em que as pessoas estão no centro das grandes reflexões, das grandes interrogações e, também, das grandes decisões. Será mesmo o digital a grande tendência ou serão as pessoas? “Let’s look at the numbers.” O estudo da Mercer “Talent Trends”, de 2017, indica como principais prioridades para os RH:

  • Atrair talento externo de elevado potencial;
  • Desenvolver líderes para sucessão;
  • Identificar elevado potencial;
  • Desenvolver competências chave em toda a força de trabalho;
  • Suportar o crescimento de carreira;
  • Aumentar o engagement dos colaboradores.

Não há robôs? Não há apps ou jogos de realidade aumentada que vão revolucionar os RH e transformar a realidade das empresas? Estranho. Talvez os mais de 400 executivos, 1.700 profissionais de RH, 5.400 colaboradores, dispersos por 37 países e 20 setores de atividade que participaram no estudo estejam ainda “atrás” no tempo. Vejamos outros exemplos: o estudo do grupo Cegos “Learning and Development Trends 2018” aponta como fatores críticos para a transformação das empresas:

  • Transformação digital;
  • Ser ágil;
  • Identificar, formar e reter talentos;
  • Reter clientes estratégicos e entrar em novos mercados;
  • Fazer mais com menos;
  • Antecipar e gerir riscos;
  • Aumentar o engagement e motivação dos colaboradores.

Num outro estudo de referência “Global Human Capital Trends 2017”, da Deloitte, as tendências digitais representam apenas 20% das tendências globais na Gestão de Capital Humano. Outros estudos podiam ser apresentados, realizados pelos grandes “players” de mercado da investigação em matérias relacionadas com a Gestão de Pessoas, e todos parecem indicar que, efetivamente, as pessoas são a maior tendência, não só nos RH, mas nos processos de Gestão como um todo e na sociedade em geral. Vivemos sim, na Era das Pessoas. Numa Era em que a “Felicidade Organizacional” é um tema de debate em Conselhos de Administração, em que a motivação, o engagement e a satisfação dos colaboradores é uma aspiração dos grandes gestores mundiais, em que começam a surgir figuras dentro das organizações intituladas “Hapiness Manager”, as empresas têm salas de relaxamento e serviços de bem estar e oferecer viagens aos colaboradores ou férias extra é uma prática cada vez mais frequente.

Digital? Sim, sem dúvida! Tecnologia? É bem-vinda, claro! Mas usemos-a para o fim máximo da experiência humana, porque talvez esteja na hora não de inventar um carro que nos leve numa viagem no tempo como “Back to the Future”, mas sim de recorrer a apps, clouds, gammings, ou seja, o que for para nos trazer ao “Back to the People”.

Maria João Ceitil. Formação/Consultoria/Coaching.

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