NEM TODO MUNDO NASCEU PARA JOGAR NO ATAQUE

Por Claudio Felisoni de Angelo* *Claudio Felisoni de Angelo é presidente do Ibevar – Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo e professor titular da USP *Claudio Felisoni de Angelo é presidente do Ibevar – Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo e professor titular da USP No passado bem distante, a Astronomia e a Astrologia caminhavam juntas. A primeira é a ciência natural responsável pelo estudo dos corpos celestes. A segunda, por sua vez, supõe que a posição dos astros interfere nos rumos futuros dos seres humanos. Com o passar dos anos, a Astronomia se fortaleceu como ciência, enquanto a Astrologia, por sua vez, adquiriu ares de “bobagem”. Qual a razão que explica esse distanciamento? Muito simples. Na Astronomia há relações de causa e efeito definidas. Já na Astrologia não há. Os que se valem de tais conhecimentos pressupõem que pessoas nascidas sob a égide de determinado signo terão esta ou aquela característica. Se não tiverem, dizem eles, será necessário verificar a posição de outros astros. Se ainda assim a realidade resistir, outras tantas posições terão de ser contempladas e o processo segue até que se confirme aquilo que se quer. E a isto se denomina tautologia. É importante, portanto, não apenas observar os resultados de determinados fenômenos. Há de se ter em conta também as causas que lhes dão origem. Recentemente, divulgou-se que o número de empresas abertas, no primeiro trimestre do corrente ano, nunca foi tão grande. Os brasileiros são certamente muito criativos, mas esse resultado indica que, de fato, o espírito empreendedor foi aguçado? Bem, se os números cresceram tão significativamente como revela as estatísticas de abertura de empresas – 516.201 entre janeiro e março de 2016 – é porque os indivíduos aceleraram a opção de abrir o seu próprio negócio. Cabe, então, outra indagação? Quais as razões que os impulsionaram? Aí começa a aparecer a outra face da realidade. O desemprego e a falta de opções estão na raiz dessas escolhas. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego subiu para 10,9% nos primeiros meses desse ano. O percentual é apenas um número e, portanto, comunica a situação com compreensível frieza. Pode-se observar o mesmo fenômeno segundo outras perspectivas. Por exemplo, o crescimento daquilo que se convencionou chamar no Brasil de atacarejo, ou seja, vendas fracionadas, lotes maiores, preços baixos e ambientes desprovidos de sofisticação. Enquanto o varejo tradicional segue ladeira abaixo, o tal atacarejo vai em direção oposta. E qual é a razão para isto? É claro que com a crise aumentou a sensibilidade ao fator preço por todas as classes de renda, mas o principal indutor de vendas desse tipo de negócio é, para os outrora empregados e hoje desempregados, a necessidade pura e simples de sobreviver. Como? Lançando o seu próprio negócio. Na maior parte das vezes, comprando um veículo e o adaptando para se tornar o que se convencionou denominar de food truck. O problema é que como nem todos os jogadores nasceram para jogar no ataque, nem todos os indivíduos têm as características de um empreendedor. Desse modo, o empreendedorismo aqui não resulta de uma escolha consciente, mas, sim, da ausência de alternativas. Não seria necessário consultar um astrólogo para conhecer as consequências disso. As dificuldades naturais enfrentadas pelo pequeno negócio, especialmente em momentos de crise e associadas a um perfil que não se coaduna com o indivíduo empreendedor, indicam um aumento dos problemas a serem enfrentados logo mais adiante.   Fonte: ABRH-Brasil
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